Na questão dos pais optantes pela não vacinação, qual é a resposta social?
A lei de 1975, que regulamenta a obrigatoriedade da vacina no território brasileiro, interpreta que não há direito dos pais não vacinar os filhos, a não ser em caso de contraindicação médica. Essa cláusula foi reiterada com o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 para garantir a proteção integral da criança. No entanto, não há, ainda, políticas de sanções contra pessoas que não cumprem esta Lei. Mas, indiretamente há exigências para garantir o cumprimento: mostrar carteira de vacinação dos filhos para ser contratado em emprego público, usufruir do Bolsa Família ou matricular as crianças na escola.
Ou seja, a opção de não vacinar ainda não tem respaldo social e/ou médico: não pode, por exemplo, ser compartilhada com o pediatra de uma criança, exceto alguns médicos que têm uma visão mais alternativa.
Existe também algo que chamamos de imunidade de rebanho, ou seja, pela vacinação da maioria, cria-se uma proteção para os não vacinados. Aí entra o paradigma do individual e do coletivo: por um lado é muito autoritária a obrigatoriedade da vacina, por outro, grandes bolsões de não vacinação podem propiciar o retorno de algumas doenças que, fatalmente, prejudicarão as classes menos favorecidas da sociedade.
Existe motivo para alarde em relação à falta da vacina contra H1N1?
Os vírus da gripe têm pequenas e grandes mutações. O H1N1 vem de uma grande mutação, como foi o da gripe espanhola e da gripe aviária. Quando surgiu, causou pânico, e ele realmente oferece riscos para idosos, crianças, gestantes, pessoas com problema renal crônico, problema asmático, cardíaco, diabetes. Mas, hoje, há um certo exagero no pânico, causado, em parte, pela mídia. Para quem não faz parte do grupo de risco, o H1N1 de um modo geral leva a um quadro gripal semelhante a outros. Caso haja sintomas mais significativos, cabe à pessoa contaminada pelo vírus da gripe, consultar e fazer uso das medicações.
E qual a sua opinião sobre a vacina do HPV aplicada em meninas nas escolas?
No geral é boa, mas por ser muito recente não tenho elementos para pontuar o seu impacto na sociedade. Ela entra naquela discussão do individual e coletivo. Na questão da saúde pública, como nem todas as mulheres fazem o Papanicolau, é importante vacinar. Mas há divergências inclusive na classe ginecologista, pois alguns acham que a vacina pode diminuir o cuidado com a prevenção. Sob o ângulo de Saúde Pública, a escola é um espaço muito bom, porque lá concentram-se meninas na faixa etária eleita para tal, porém considero a aplicação ali algo autoritário. Acredito que falta diálogo e informação, e esses fatores contribuem para a baixa adesão à vacina. Ela torna-se ainda mais polêmica porque envolve também a questão da sexualidade.